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A biodiversidade e os serviços dos ecossistemas

  • Foto do escritor: Instituto de Ecologia Consciência Verde
    Instituto de Ecologia Consciência Verde
  • 10 de fev. de 2024
  • 7 min de leitura


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Dos cerca de duzentos países atuais, apenas dezessete são considerados megadiversos, por conterem 70% da biodiversidade mundial. O Brasil está em primeiro lugar nessa lista, abrangendo a maior diversidade biológica continental. Nosso território abriga entre 15% e 20% de toda a biodiversidade do planeta e o maior número de espécies endêmicas, a maior floresta tropical (a Amazônia) e dois dos dezenove hotspots mundiais.

 

A riqueza biológica nacional manifesta-se também na diversidade de ecossistemas: são seis biomas continentais – Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa –, que abrangem dez regiões fito ecológicas e 31 formações vegetais, entre florestas, savanas e estepes. Somam-se,  ainda, as áreas de formações pioneiras, de influência marinha, fluvial e lacustre, como  restingas e mangues, importantes berçários naturais, e, também, as de tensão ecológica,  isto é, de contato entre diferentes regiões ecológicas.

 

O planeta vive uma crise de biodiversidade, caracterizada pela perda acelerada de espécies e de ecossistemas inteiros. Essa crise agrava-se com a intensificação do desmatamento nos ecossistemas tropicais, onde se concentra a maior parte da biodiversidade (GANEM, 2010).

 

No Brasil, a perda e a fragmentação de hábitats afeta todos os biomas. Ela é mais grave na Mata Atlântica, onde a vegetação nativa ficou restrita a pequenos fragmentos, mas também atinge extensas áreas no Cerrado, no Pampa e na Caatinga (GANEM, 2010).



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Conforme Ganem (2010) no Cerrado, que originalmente ocupava um quarto do território brasileiro, o desaparecimento da vegetação nativa foi mais impressionante, pois o bioma perdeu quase metade de sua extensão em menos de cinquenta anos. Se as frentes de ocupação, no processo de colonização portuguesa do território brasileiro, levaram séculos para se estabelecer, removendo a cobertura vegetal e alterando os ecossistemas nativos ao longo do litoral e regiões próximas a ele, a derrubada da vegetação, nas últimas décadas, ocorre a passos de trator e avança rapidamente para as fronteiras mais longínquas  da Amazônia. São perdas aceleradas, perceptíveis na escala de uma geração humana.

 

Apesar disso, a perda de diversidade biológica é uma crise silenciosa. Ela se assemelha aos problemas relativos à mudança global do clima. Quando surgiram os primeiros alertas dos cientistas, houve (e ainda há) incredulidade. No entanto, a não implantação das medidas de mitigação necessárias levou a uma situação irreversível  a curto prazo, em que já não se poderão reverter os efeitos para os próximos anos. O mesmo ocorre com a crise da biodiversidade: por ser silenciosa ela é ignorada ou objeto de descrença, o que poderá levar à perdas irreversíveis de espécies e ecossistemas e à homogeneização biótica do planeta (GANEM, 2010).


Os serviços dos ecossistemas são os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas. Esta definição é derivada de duas outras definições comumente referenciadas:

 

a) Os serviços dos ecossistemas são as condições e processos através dos quais ecossistemas naturais e as espécies que a compõem sustentam a vida humana. Eles mantêm a biodiversidade e a produção de bens ambientais, tais como frutos do mar, madeira de forragem, biomassa, fibras naturais, e muitos produtos farmacêuticos, produtos industriais, e seus precursores (DIÁRIO, 1997b:3).

 

b) Bens ambientais (como alimentos) e serviços (como a assimilação de resíduos) representam os benefícios para as populações humanas, direta ou indiretamente, das funções dos ecossistemas (COSTANZA et al., 1997:253).

 

A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (2003) segue a definição de COSTANZA (1997), incluindo ambos os ecossistemas naturais e modificados pelo homem como fonte de serviços ambientais, e segue diariamente em usar o termo "serviços" para abranger tanto os benefícios tangíveis e intangíveis que os seres humanos obtêm dos ecossistemas, que às vezes são separados em "bens" e "serviços", respectivamente.

 

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O conceito de serviços ecossistêmicos é relativamente recente e foi usado pela primeira vez na década de 1960 (HELLIWELL, 1969). Pesquisa sobre serviços ambientais tem crescido dramaticamente durante as últimas décadas (MONTES, 2008; MARTIN-LOPEZ, B., 2007; MARTIM-LOPES, B., 2009).

 

É prática comum em economia, tanto para se referir a bens e serviços separadamente e para incluir os dois conceitos dos serviços. Apesar de que "bens", "serviços" e "serviços culturais" são muitas vezes tratados separadamente para facilitar a compreensão, para o MA (2003) são considerados todos estes benefícios em conjunto, como "serviços ecossistêmicos", porque às vezes é difícil determinar se um benefício fornecido por um ecossistema é do tipo "bom" ou um "serviço". Além disso, quando as pessoas se referem a "bens e serviços dos ecossistemas", valores culturais e outros benefícios intangíveis são, por vezes esquecidos.

 

Os serviços ecossistêmicos têm sido classificados de muitas maneiras diferentes, entre as quais citam-se:

- grupos funcionais: incluem regulação, suporte, habitat, produção, e serviços de informação (LOBO 2001; GROOT ET AL, 2002).

- agrupamentos organizacionais: que incluem os serviços que estão associados a certas espécies, que regulam a entrada de algumas substâncias exógena, ou que estão relacionados aos a organização das entidades bióticos (NORBERG, 1999); e

- agrupamentos descritivos: que inclui bens de recursos renováveis e não renováveis, serviços de estrutura física, serviços bióticos , serviços biogeoquímicos , serviços de informação e os serviços sociais e culturais (MOBERG e FOLKE 1999).


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Para fins operacionais classificam-se os serviços ecossistêmicos ao longo de linhas funcionais da Avaliação Ecossistêmica do Milçênio (2003), utilizando categorias de provisionamento, de regulação, culturais e serviços de apoio.

 

1.Serviços de provisionamento: Estes são os produtos obtidos a partir dos ecossistemas, incluindo:

- Comida e fibras: nessa categoria incluem-se os produtos alimentares derivados a partir de plantas, animais e microrganismos, assim como materiais tais como a madeira, juta, cânhamo, seda e muitos outros produtos derivados de ecossistemas;

- Combustíveis:  inclui madeira, estrume, e outros materiais biológicos que servem como fontes de Energia;

- Recursos genéticos: inclui os genes e a informação genética usada em sanidade animal e melhoramento de plantas e biotecnologia;

- Bioquímicos, medicamentos naturais e produtos farmacêuticos: muitos medicamentos, biocidas, aditivos alimentares, tais como os alginatos e materiais biológicos são derivados de ecossistemas;

- Recursos ornamentais: produtos de origem animal, tais como peles e conchas e as flores são usadas como enfeites, embora o valor desses recursos são muitas vezes culturalmente determinados. Este caracteriza-se como um exemplo das ligações entre as categorias de serviços dos ecossistemas;

- Água doce: a água doce é outro exemplo de articulação entre as categorias, neste caso, entre provisão e regulação dos serviços.

 

2. Serviços de regulação: São os benefícios obtidos da regulação dos processos dos ecossistemas, incluindo:

- Manutenção da qualidade do ar: Os ecossistemas contribuem para produtos químicos e para extrair os produtos químicos da atmosfera, influenciando muitos aspectos da qualidade do ar;

- Regulação do clima:  Ecossistemas influenciam o clima local e global. Em uma escala local as mudanças na cobertura do solo podem afetar a temperatura e as precipitações. Na escala global, ecossistemas desempenham um papel importante no clima por sequestro ou emissões de gases de efeito estufa;

-Regulação da água:  o momento e a magnitude do escoamento, inundações e recargas do aquífero podem ser fortemente influenciado por mudanças na cobertura da terra, incluindo, em particular, as alterações que modificam o potencial dos sistemas de armazenamento de água, tais como a conversão de zonas húmidas ou da substituição de florestas por áreas de cultivo ou áreas de cultivo com áreas urbanas;

- Controle da erosão: o tampão vegetativo desempenha um papel importante na manutenção do solo e para a prevenção de deslizamentos;

- Purificação de água e tratamento de resíduos: ecossistemas podem ser uma fonte de impurezas na água doce, mas também pode ajudar a filtrar e decompor resíduos orgânicos introduzidos em águas interiores, costeiras e marinhas;

- Regulação de doenças humanas: mudanças nos ecossistemas pode alterar diretamente a abundância de patogênicos humanos, tais como a cólera e podem alterar o abundância de vetores de doenças, como mosquitos;

- Controle biológico: mudanças nos ecossistemas afetam a prevalência da cultura e pragas e doenças de animais em determinadas regiões;

- Polinização: mudanças nos ecossistemas afetam a distribuição, abundância e eficácia dos polinizadores;

- Proteção de tempestades: a presença dos ecossistemas costeiros, como manguezais e os recifes de corais podem reduzir drasticamente os danos causados ​​por furacões e grandes ondas;

 

3. Serviços Culturais: Os serviços culturais estão fortemente ligados a valores e comportamentos humanos, bem como para as instituições humanas e padrões de organização social, econômica e política. Assim, as percepções de serviços culturais são mais propensas a diferirem entre os indivíduos e as comunidades. São os benefícios não materiais que as pessoas obtêm dos ecossistemas através de enriquecimento espiritual, o desenvolvimento cognitivo, da reflexão, da recreação e experiências estéticas, incluindo:

- Diversidade cultural: a diversidade de ecossistemas é um fator que influencia a diversidade das culturas;

- Valores espirituais e religiosos: muitas religiões atribuem valores espirituais e religiosos para os ecossistemas ou de seus componentes;

- Sistemas de conhecimento (tradicional e formal): ecossistemas influenciam os tipos de sistemas de conhecimentos desenvolvidos por diferentes culturas;

- Valores educativos: ecossistemas e seus componentes e processos fornecem a base para a educação formal e informal em muitas sociedades;

- Inspiração: os ecossistemas fornecem uma rica fonte de inspiração para a arte, folclore, símbolos nacionais, arquitetura e publicidade;

- Valores estéticos: muitas pessoas concebem a beleza ou valores estéticos em diversas aspectos dos ecossistemas, refletido no apoio a parques, unidades de paisagem e na seleção de locais de habitação;

- Relações sociais: ecossistemas influenciam os tipos de relações sociais que são estabelecidos em determinadas culturas. Sociedades de pesca, por exemplo, diferem em muitos aspectos nas suas relações sociais de pastoreio nômade ou sociedades agrícolas;

- Sentido de lugar: muitas pessoas valorizam o "senso de lugar" que está associado com as características reconhecidas de seu meio ambiente, incluindo os aspectos dos ecossistemas;

-Valores patrimoniais culturais: muitas sociedades colocam alto valor na manutenção de paisagens, tanto historicamente importantes (paisagens culturais) ou espécies culturalmente significativas;

- Recreação e ecoturismo: muitas vezes as pessoas escolhem onde querem passar o seu tempo de lazer, baseados em parte nas características das paisagens naturais ou cultivadas em uma área particular.




Referências

MA (Millennium Ecosystem Assessment). 2003. Ecosystems and human well-being: A framework for assessment. Island Press, Washington, D.C.

 MA (Millennium Ecosystem Assessment). 2005. Ecosystems and human well-being: Synthesis. Island Press, Washington, D.C.

 MÄLER K., GREN I., FOLKE C. 1994. Multiple use of environmental resources: a household production function approach to valuing natural capital. En: JANSSON A.,

 HAMMER M., FOLKE C., COSTANZA R. (Eds.), Investing in Natural Capital. Island Press, Washington, D.C. pp. 234-249.

 MARTÍN-LÓPEZ B., GÓMEZ-BAGGETHUN E., GONZÁLEZ J.A., LOMAS P. L., MONTES, C. (en prensa). The assessment of ecosystem services provided by biodiversity: re-thinking concepts and research needs. En: Aronoff J.B. (Ed.). Handbook of Nature Conservation: Global, Environmental and Economic Issues. Nova Science Publishers, New York.

COSTANZA R. 2008. Ecosystem services: Multiple classification systems are needed. Biological Conservation, 141: 350-352.

 COSTANZA R., D'ARGE R., DE GROOT R., FARBER S., GRASSO M., HANNON B., LIMBURG K., NAEEM S., O'NEILL R.V., PARUELO J., RASKIN R.G., SUTTON P., VAN DEN BELT M. 1997. The value of the world's ecosystem services and natural capital. Nature, 387: 253-260.

 DAILY G.C. 1997. Nature´s services: Societal dependence on ecosystem services. Island Press, Washington, DC.

 DE GROOT R., STUIP M., FINLAYSON M., DAVIDSON N. 2006. Valuing wetlands: Guidance for valuing the benefits derived from wetland ecosystem services. Ramsar Technical Report/CBD Technical Series 3/27. Gland, Secretariat of the Convention on Wetlands.

 DE GROOT R.S., WILSON M.A., BOUMANS R.M.J. 2002. A typology for the classification, description and valuation of ecosystem functions, goods and services. Ecological Economics, 41: 393-408.

 DÍAZ S., CABIDO M. 2001. Vive la difference: plant functional diversity matters to ecosystem processes. Trends in Ecology & Evolution, 16: 646-655.

 DÍAZ S., FARGIONE J., CHAPIN F.S.III., TILMAN D. 2006. Biodiversity loss threatens human well-being. PLoS Biology, 4: 1300-1305.



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